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Pegamos o carro e fomos para Guaratuba, ainda anestesiados pela festa da noite anterior. Na parte externa havia uma enorme piscina arredondada, com cadeiras enormes e almofadas em listras azul e branco em toda a sua volta. Com certeza havia mais que duzentos convidados nesse dia. Outra festa muito marcante para mim foi na cobertura do Noturno, que morava em um triplex. Depois de uma semana cansativa de trabalho, ele resolveu fazer uma festa de arrebentar.
Convidamos muitas pessoas, muito mais de cem. A cobertura ficou lotada, as pessoas se espremiam para andar pela festa. Desses convidados, oitenta por cento eram mulheres, lindas por sinal. A festa rolou a noite toda. Alguns convidados, na realidade a maioria, entraram na piscina e jogavam espuma em todo mundo. Foi uma loucura. Realmente acabou ficando semelhante ao clipe que o Noturno tanto gostava. Mesmo com todo o glamour das festas que eu participava em Porto Alegre, na realidade era em Guaratuba que eu me divertia.
Todo mundo me conhecia, os mais jovens e os mais velhos queriam sair comigo. Mesmo tendo casa alugada em Guaratuba, eu ia para o Hotel Candeias54 para descansar. Por isso, precisava me isolar. Aluguei um apartamento de frente para a praia muito bonito e decorei da forma que eu gostava, para poder me sentir em casa. Para mim, aquilo era um absurdo. Eram muitas aventuras, eu realmente vivia a mil por hora. Conforme o lixo ia aumentando dentro do quarto, copos, pratos, restos de comidas e um monte de outros tipos de lixo se acumulavam.
Tudo era levado na brincadeira. A sujeira no quarto era imensa. E hospedado estava Marky Ramone62, baterista da banda Ramones63, que veio ao Brasil junto com os integrantes da banda Pearl Jam. Eu e Nilson ficamos com eles cantando e bebendo a tarde toda, e para finalizar nosso dia, ganhamos convites VIPs para assistir ao show. Foram momentos marcantes.
Nosso romance adolescente durou um bom tempo, e ela me acompanhou em diversos momentos da minha vida. Momentos bons e momentos muito ruins. Nisso, aproximou-se do nosso grupo a Carolina, garota linda, loira, de olhos azuis, cabelos compridos e encaracolados, um corpo escultural e um rosto de anjo. Em cada segundo que eu tinha de folga, pensava, falava ou estava com Carolina. Passei a ir para Guaratuba em todas as folga que tinha no trabalho. E eu com minha vida dupla.
Ficamos juntos por muito tempo, amadurecemos juntos. Ela vivenciou momentos marcantes da minha vida. Estava em Curitiba, voltando para o trabalho em Porto Alegre. Durante toda a vigem, comi barrinhas de cereal e tomei cerveja, estava com o Nilson, que dessa vez viajou comigo. Descemos no aeroporto Salgado Filho. Ele era negro, muito grande e forte. Eles nos levaram ao Hotel Master, o que eu mais ficava em Porto Alegre. E o pessoal foi chegando, Renato com uma Pathfinder69, Mauro com uma Cherokee70, e todos estavam me esperando.
Quando eu desci lembrando que eu sou apaixonado pela BMW Z, e todo mundo sabia do meu desejo e grande sonho , vi uma Z3 prata estacionada na frente do hotel. Nilson sentou no banco do passageiro, partimos e entrei na Avenida Farrapos com o pessoal ao meu lado indo para pegar o acesso para a Cidade Baixa. Voltei ao trajeto e na velocidade normal, e seguimos para nosso destino.
Com os caras todos ao meu lado, eu entrei na parte superior onde era o camarote, o show rolando e eu me sentindo realmente o cara. Que loucura Foi um dos momentos mais marcantes que tive em minha vida, era adrenalina pura. E para terminar a noite em alto estilo, fomos para a casa de uma das garotas, e assim cada um curtiu como quis o seu fim de noite. Outro personagem que sempre admirei foi no cinema, o , que assisti a todos os filmes.
Acabei me cansando, porque era muito quente usar aquele tipo de roupa. Na verdade, o que eu queria era ter uma imagem diferente e mais forte, que representasse um homem mais velho e poderoso.
Na verdade, meu desejo era poder ser alguma coisa mais que um garotinho mimado e rico, filhinho de papai, como as pessoas me confundiam e achavam que eu era. Anderson, dos filmes da trilogia Matrix77, interpretado por Keanu Reeves. No filme, Neo vivia uma vida dupla. Por onde eu andava, as pessoas olhavam sem entender muito bem quem eu era ou o que fazia. O hacker foi solto imediatamente.
Os policiais entraram no carro e foram embora como se nada tivesse acontecido, e os chefes pagaram todas as despesas do acidente, indenizaram o casal, e o caso foi arquivado como se nunca tivesse ocorrido. Sempre me senti protegido em Porto Alegre. Quanto mais eu produzia, mais eles me exigiam; quanto mais eu mostrava minha capacidade, mais eles me traziam coisas diferentes para fazer. Busquei no meu passado os garotos que ensinei, que me admiravam e seguiam meus passos. Fiz com eles o que fizeram comigo, estipulava metas para produzirem para mim.
Quando voltava, cobrava resultados deles. Essa foi a minha grande sacada, porque eu tinha um grupo de sete ou oito hackers que eram bem melhores do que eu era quando comecei, e agora eles estavam trabalhando para mim. Trabalhar comigo significava sucesso junto com um curso intensivo de como ser hacker. Eu fui, curti todas, barbarizei com a BMW. A empresa pagava altos valores em impostos e boletos de fornecedores.
Com a minha ajuda, ele economizava muito com esses pagamentos, e sua fortuna cresceu rapidamente. O primeiro passo foi me convidar para trabalhar com ele. Achei isso uma tremenda sacanagem e contei ao Rodrigo o que estava acontecendo. Eu liguei o meu aparelho e gravei uma conversa entre o Rodrigo e o guarda-costas combinando de me matar.
Eles eram escolhidos de acordo com o compromisso a ser atendido; se ele fosse mais formal, eu utilizava o BMW ; mais esportivo, o Z3 era a escolha; e assim eu vivia e curtia a vida em Curitiba. E assim a convenci a ir pelo menos tentar, e ela acabou conseguindo a vaga.
Chegando em casa, entrei na internet e paguei o boleto que eles me deram com uma das contas que eu fraudava. Foi o melhor investimento que eu fiz em todos esses anos, e pela primeira vez usei meu dom para ajudar.
Eu conseguia muito mais dinheiro em Curitiba, mas gastava exageradamente para poder trabalhar em paz. Entrei em contato com o Vinicius, um cara da minha equipe antiga, que para mim era o melhor e morava em Campinas. Ele seguiu por uma estrada sem volta. Conseguimos convencer o delegado que ele tinha problemas mentais e tinha fugido do tratamento que fazia em Campinas; por sorte eles nos liberaram para trazer o Vinicius de volta. O contato mais direto que tive com eles foi traumatizante.
Eles me sequestraram e exigiram dinheiro para me soltar. Foi assim que tive certeza do perigo que eu estava vivendo. Na noite seguinte, busquei Carolina em casa e fomos a um barzinho. Ele se apoiou na janela e olhou para mim. Mandaram que eu ficasse calmo e fizesse o que eles estavam pedindo. Mesmo com muito medo, acatei suas ordens. Ele foi dirigindo meu carro com Carolina no banco do passageiro, e eu fui no Gol com outros policiais, chamados Paulo Germano e Valdomiro Barbosa. Paulo era um policial mais velho, aparentava ter uns quarenta anos, estatura mediana, um pouco calvo e mais gordo que os outros.
Entrei no carro e perguntei para onde eles estavam me levando. Eles nos mandaram sentar, eu em uma sala e a Carolina em um banco na entrada. Na cadeia, tinha uma carceragem com alguns homens detidos. Eles levantaram cinquenta mil, e eu tinha o restante guardado no cofre do hotel em que me hospedava em Curitiba.
Eu sentia no seu olhar a inveja sobre mim, acho que por eu ser um cara mais jovem que ele e ter tudo o que eu tinha. Isso me deixou muito chateado, porque ele foi a pessoa que sempre quis me defender e me ajudar. Depois de me recuperar, decidi me entregar. Eu fazia parte de um grupo que cometia crimes virtuais e que queria me entregar. Passaram-se alguns dias, consegui me recuperar do susto e voltei a trabalhar novamente.
Como em outra noite, quando voltava da balada, uma viatura me parou e encaminhou para um Distrito Policial de Curitiba. Tinha medo, porque eu sabia muito sobre eles e eles sobre mim.
Ia demorar muito para voltarmos a nos relacionar como antes, claro, se isso algum dia voltasse a acontecer. Resolvi sair do hotel e ir para um apartamento em Canoas, pertencente a um dos integrantes do grupo. Minha vontade era apenas de ir embora, voltar para Guaratuba, ter paz e organizar minha festa de 17 anos.
Eram quase seis. Eu olhei para eles e confirmei que eu era o Daniel. Comecei a me acalmar um pouco e perguntei o que estavam querendo e porque eles estavam procurando por mim.
Quando descemos do carro, a imprensa estava inteirinha na porta nos esperando. Ser reconhecido por seu trabalho? E foi assim que todo mundo ficou sabendo como eu era bom naquilo que eu me propunha a fazer. Resumindo, eram eu e o Nilson sem saber o que ia nos acontecer. Tive a infelicidade de pegar o elevador com o pessoal do COT.
Depois, um pouco mais relaxado, pedi para ele me deixar fumar um cigarro. Ele gritava que estava colaborando, mas invadir a sala dele para fumar era abuso. Rapidamente consenti afirmativamente, e, sem entender, fiquei ainda mais surpreso quando ele chamou o Nilson para entrar e conversar com ele antes de mim.
Nilson saiu, e ele me mandou entrar. Pela primeira vez eu vi o restante do grupo. Conforme os carros iam chegando, os agentes federais os estacionavam um ao lado do outro. O pessoal ia descendo e formando uma fila, um ao lado do outro.
Ele falava alto e em bom som que eu era mais idiota do que parecia, idiota e prepotente. Q uando chegamos a Curitiba, no aeroporto Afonso Pena, a equipe de trabalho que nos trouxe entregou os presos para policiais federais de Curitiba. E amanheceu, muito lentamente. Logo em seguida, chegou meu pai com uma advogada. Agora, meus depoimentos eram acompanhados pela advogada. Cada oportunidade era para um grupo de pessoas diferentes. Com o Nilson aconteceu a mesma coisa.
A Ponto Com. Outros foram absolvidos por falta de provas. Expliquei em detalhes todos os atos infracionais em que havia me envolvido, por exemplo, como e onde aplicava os golpes. Todo o processo pareceu demorar uma eternidade, e conforme o tempo passava, outros acontecimentos vieram, e eu fui bloqueando na minha mente muitos dos fatos que ocorreram.
E o processo acabou sendo arquivado, porque a grande maioria dos acusados foram liberados por falta de provas.
Mesmo alguns sendo presos e outros remanejados, a grande maioria saiu impune. Eu pedi que me arranjasse um cigarro, ele pegou uma cartela cheia de cigarros e me deu. E foi embora. Isso para mim serviu como um tapa na cara e ao mesmo tempo parecia que era uma mensagem de Deus. Com o passar do tempo, montamos uma casa e ficamos um bom tempo morando em Bauru, separados do meu pai. Havia receio de que algo pudesse acontecer comigo, afinal de contas eu fui arrolado como testemunha.
Posso dizer que era apavorante. Lembro-me de que em uma madrugada um barulho muito forte irrompeu no hotel. Eles correram, armados, invadiram o nosso quarto e se posicionaram entre a cama e a porta. Vi que o agente estava com a arma apontada para fora, como se algo estivesse acontecendo. Ainda com sono, ele perguntou o que eu estava fazendo na janela, se estava acontecendo algo, e eu apenas respondi que estava fumando.
Eu sempre acreditava que a qualquer momento eles me encontrariam. Esse inferno fez parte de minha vida por quase dois anos. Posso falar dessa maneira pois conquistei rapidamente muitas coisas cometendo fraudes. E com o meu trabalho honesto, demorei anos para conquistar o que possuo atualmente. Percebo que demoro meses para ganhar o que ganhava antigamente em uma semana de trabalho. Voltei para Curitiba morando na casa com meus pais. Precisava descobrir o que eu queria fazer de verdade.
Decidi voltar a Bauru. Comecei a sair nas ruas novamente com tranquilidade. Perdi o contato com esse pessoal, cada dia mais envolvido com a internet e me afastando das pessoas.
Depois do Nilson, senti muita falta de um verdadeiro amigo. Esse acidente acabou nos aproximando muito, eu estava arrasado e deprimido, estava perdendo aos poucos as poucas coisas que me restaram do tempo de luxo. Arrogante e esbanjador Eu a conheci muito antes de vir morar em Bauru, ainda namorava a Carolina, e a gente se encontrava quando eu vinha passear na casa do meu primo Marcelo.
Depois de alguns anos, eu estava em Porto Alegre e estava na internet em uma sala de bate-papo, era bem de madrugada e eu a reconheci e a adicionei. Ficamos muito tempo sem nos falar, mas eu sabia que ela ficava impressionada com as coisas que eu fazia. Ela chegou dizendo que tinha uma prima que estava precisando de ajuda.
Sempre que eles marcavam encontro, ele desmarcava, nunca dava certo de se encontrarem. Como eu estava interessado nela, achei um excelente pretexto para me aproximar. Armamos todo um esquema no meu apartamento para hackear o cara, coloquei dois computadores e consegui descobrir algumas coisas. Percebi que a cada dia que a gente se encontrava para desvendar o misterioso namorado da prima, mais a gente se aproximava.
Foi uma fase diferente, mas muito importante. Eu me lembro uma vez que fomos a um restaurante, e na hora de pagar a conta me deram troco errado, me voltaram mais dinheiro do que deveriam ter voltado. Acredito que certas coisas na vida tem que ocorrer, ela acreditava que Deus havia nos colocado juntos pra ajudarmos um ao outro. Nosso relacionamento foi muito intenso, somos pessoas intensas. Eu sempre desconfiado, vi uma pessoa com atitudes estranhas, de alguma forma percebi que aquela pessoa estava mal-intencionada por algum motivo.
Conseguimos despistar o cara e fomos embora. Parecia que quanto mais eu tentava refazer minha vida, mais coisas ruins aconteciam. Mesmo estando a pouco tempo em Bauru, retornei a Curitiba com prazo de validade de um ano. Eu sabia que eu era uma nova pessoa. Eu me agarrei a essa oportunidade, e em pouco tempo fiz a empresa prosperar e ser considerada uma das melhores do ramo em Curitiba.
Ele veio trabalhar conosco, e nos tornamos grandes amigos e confidentes. Minha vida era viver aqueles momentos, que eu considerava os melhores para mim. Mas o prazo que dei a mim mesmo se esgotou e voltei para Bauru. Chegando a Bauru, continuei a conviver com os amigos e familiares que fui aprendendo a confiar durantes todos esses anos de idas e vindas.
E foi o que eu fiz. Com isso, essas pessoas normalmente possuem duas vidas. Nascem com esse dom.
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